Sou da gente diferenciada,
Ando de metrô, trem e busão
Sou dos que não ganham mesada
Trabalho o mês inteiro pelo meu quinhão
Sou da gente diferenciada,
Não nasci em berço de ouro
E de herança não deixo nada
Só minha alma, minha paixão, meu couro
Você chama de gente diferenciada
Quem você julga pobre na beira do precipício
A grande massa aguenta calada
Você descansa no seu embolorado edifício
Abastado desde criança
Longe da favela, na parte nobre da cidade
Deita e rola com a sua herança
Sem a mínima noção da realidade
Empresários, lobistas e judeus
Famílias de tradição e centenárias
Não se parecem com nenhum dos seus
Suas ilhas de fantasia imaginárias
De brancos, ricos e bonitos
Longe da maioria brasileira
Pobres, mulatos e aflitos
Pegam no batente na segunda-feira
São seus empregados, braçais e serviçais
A seu dispor e seu serviço
São ignorantes, sujos e iguais
Nasceu para sempre viver submisso
Você e seu universo umbigo
Carro luxuoso, ar condicionado, trânsito infernal
Você carrega consigo
O egoísmo de um débil mental
Ao barrar o interesse coletivo
Por preconceito e burrice
Cava seu caminho ao abismo
Mente burguesa cheia de sandice
A cidade continua então padecendo
Trânsito, enchente e poluição
Não importa tudo o que vem acontecendo
O que importa é seu bairro e sua tradição
Assim, você escreve sua triste história
De um bairro ora tão decente
Agora joga no lixo toda sua glória
Triste mentalidade de uma burguesia decadente
Tenho orgulho em ser da gente diferenciada
E não ser assim tão igual
Pobre, limpa e que não deve nada
Higienópolis, vergonha nacional